O monitoramento da vida selvagem é utilizado para a obtenção de dados essenciais que ajudam a compreender a ecologia das mais diversas espécies, a avaliar o impacto da ação humana e das mudanças climáticas no ecossistema, entre outras questões. Com isso, é possível estabelecer estratégias que visem à conservação de espécies, como a criação e gestão de unidades de conservação, bem como o uso sustentável dos recursos da natureza. O monitoramento é um instrumento amplamente utilizado para determinar padrões ecológicos que norteiam e subsidiam ações de proteção e preservação dos ecossistemas.

Um dos principais objetivos da criação de uma Unidade de Conservação é a proteção da fauna silvestre in situ, por meio da conservação de ecossistemas naturais em sua forma e função originais.

A gestão das Unidades de Conservação (e a consequente proteção da fauna) é realizada por meio de diversas ações diretas e indiretas, projetos e programas nas linhas de: fiscalização; educação ambiental; pesquisa; uso público; manejo, restauração, interação socioambiental e regularização fundiária. Todos os recursos investidos, sejam eles financeiros ou humanos, tem como objetivo principal minimizar os impactos negativos sobre as Áreas Protegidas e promover ações com impacto positivo na conservação. A gestão objetiva não só manter a integridade dos ecossistemas, mas melhorar a sua qualidade ambiental, oferecendo condições de regeneração e crescimento de todas as formas de vida silvestres nativas.

Medir a qualidade ambiental das áreas protegidas geridas pela Fundação Florestal é importante parâmetro para avaliar a eficiência das ações de gestão. Há diversas ferramentas utilizadas com tal finalidade, com destaque para os métodos institucionalizados pelo Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Programa Monitora.

O foco deste projeto é o desenvolvimento e a continuidade de um Programa  de Monitoramento da Biodiversidade, através de metodologias baseadas em diferentes protocolos de coleta de dados,  análise e interpretação de dados e informações obtidas com o monitoramento de espécies da fauna presentes em UC de Proteção Integral e Uso Sustentável contíguas, previamente selecionadas. Mesmo não sendo em todas as UC ou na totalidade do território abrangido por cada uma, é trabalho de fôlego, e não é surpreendente que seja um dos maiores desafios dos órgãos gestores, dada a reconhecida megabiodiversidade brasileira e, portanto, enorme quantidade de dados gerados por essa iniciativa.

O Programa de Monitoramento da Biodiversidade, em desenvolvimento pela Fundação Florestal, tem como objetivo principal ampliar o conhecimento sobre a fauna e flora presentes nas unidades de conservação (UC) para subsidiar a gestão, avaliar a efetividade das UC para a proteção e conservação das espécies, bem como subsidiar tomadas de decisão, proposição de políticas públicas e realização de ações educativas para a proteção das espécies.

O Programa tem como prioridades: (i) o monitoramento da biodiversidade com foco em espécies ameaçadas de extinção; (ii) o monitoramento de ações de manejo de enriquecimento da flora e restauração; (iii) o desenvolvimento de políticas públicas consistentes e duradouras para a efetiva gestão das unidades de conservação.

Hunter Camera

As unidades de conservação, abrangidas pelo projeto piloto que subsidiou o desenvolvimento do Programa, demonstraram abrigar uma elevada riqueza de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, como a onça-pintada (Panthera onca), onça-parda (Puma concolor), anta (Tapirus terrestris), queixada (Tayassu pecari), mico-leão-preto (Leontoptecus chrysopygus),  muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), cachorro do mato vinagre (Speothos venaticus), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), várias espécies de borboletas frugívoras em diferentes graus de ameaça. Essas espécies se distribuem nos biomas Mata Atlântica e Cerrado em suas diferentes fitofisionomias no estado de São Paulo, associadas a espécies vegetais, também ameaçadas, de extrema importância para manutenção da fauna e flora.

O Programa prevê cinco Subprogramas de Monitoramento inter-relacionados: (i) Mamíferos Terrestres de Médio e Grande Porte, (ii) Primatas, (iii) Borboletas Frugívoras, (iv) Aves e (v) Flora. Os subprogramas que serão objeto deste projeto correspondem aos Mamíferos Terrestres de Médio e Grande Porte, Primatas e Borboletas Frugívoras possuem espécies-alvo específicas, metodologias de monitoramento distintas e situações amostrais adequadas para cada um deles, por isso um pacote de análise específico para cada um será necessário, de acordo com os objetivos delineados e atividades descritas no item 5. deste Plano de Trabalho.

As atividades previstas visam subsidiar as tomadas de decisão para além da proteção das espécies e conservação da biodiversidade, tais como: justificar o aumento da cobertura vegetal, a redução de fragmentação em paisagens conservadas, contribuindo e fortalecendo para a manutenção e ampliação dos serviços ecossistêmicos e ambientais já fornecidos pelas unidades de conservação e zonas de amortecimento.

Finalmente, espera-se que os resultados tenham impacto positivo direto na conservação de diversas espécies de fauna e flora do Estado e sensibilização da sociedade paulista para a sua proteção.

O monitoramento de mamíferos terrestres de médio e grande porte é um instrumento amplamente utilizado para determinar padrões ecológicos que norteiam e subsidiam ações de proteção e preservação dos ecossistemas. O programa teve como objetivo tornar mais eficaz a gestão das Unidades de Conservação (UC) e servir como prova de conceito para o desenvolvimento de um Programa de Monitoramento da Biodiversidade nas Unidades de Conservação do Estado de São Paulo.
A partir do sucesso obtido no projeto-piloto e da disponibilidade orçamentária para monitorar outras UCs, iniciou-se, ainda em 2022, a expansão para os Núcleos do PE Serra do Mar, Vale do Ribeira, Cantareira e UCs do Cerrado, totalizando 650.584,48 hectares (ha):

  • 4 Estações Ecológicas: EE Juréia-Itatins, EE Jataí, EE Mogi-Guaçu e EE Itirapina
  • 10 Parques Estaduais: PESM (10 Núcleos: Núcleos Itariru, Curucutu, Cunha, Santa Virgínia, Picinguaba, Caraguatatuba, Itutinga-Pilões, Bertioga, Padre Dória e São Sebastião), Morro do Diabo, Cantareira, Intervales, Carlos Botelho, Jurupará, Caverna do Diabo, Rio Turvo, Petar e Vassununga
  • 1 ReBio: ReBio Mogi-Guaçu
  • 2 Estações Experimentais: EEx Itirapina e Mogi-Guaçu

Todas as equipes foram capacitadas para a instalação e remoção das armadilhas, organização, triagem e armazenamento de imagens. O monitoramento para todas as UCs da Mata Atlântica iniciou na segunda quinzena de junho de 2022, com previsão de resultados finais em novembro. As UCs do projeto-piloto farão o segundo ano de monitoramento, utilizando o mesmo grid, grade de pontos amostrais onde são instaladas as armadilhas, que foi validado durante o projeto.

Atualmente, são 240 armadilhas fotográficas realizando registros nas unidades previamente mencionadas. Um complemento para o projeto, foi a publicação do edital para contratação de 47 de monitores ambientais que estarão dedicados ao monitoramento da biodiversidade, o que é inédito para a Fundação Florestal, uma vez que os protocolos de coleta de dados e auxílio nas análises das informações serão parte das atividades desenvolvidas pelos novos colaboradores.

As populações de primatas têm diminuído ao longo do tempo. Efeito da perda de habitat, caça, isolamento, doenças e eventos extremos da natureza são ameaças sérias a estes animais. Algumas estimativas informam que 75% de todas as espécies do mundo encontram-se em declínio populacional.

Existe uma grande lacuna de conhecimento sobre os dados populacionais de primatas no mundo, salvo para algumas raras espécies que se encontram muito ameaçadas de extinção.

Nas Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, ocorrem naturalmente dez espécies de primatas, com raras informações sobre estimativas populacionais. Para que possamos acessar o ‘status’ de conservação,  são fundamentais dados do tamanho das populações e suas mudanças ao longo do tempo.

Monitorar as tendências das populações e obter os dados necessários para avaliar seu estado de conservação é um desafio e  depende de métodos confiáveis ​​que possam ser padronizados e implementados em diferentes locais de ocorrência da espécie.

A observação direta com o uso de transecções lineares,ou trilhas,existentes nas Unidades de Conservação adaptadas para este objetivo, é o método utilizado neste monitoramento.  Por meio de caminhadas regulares e padronizadas, o observador coleta dados de distância de avistamento, identifica a espécie, o número de indivíduos visualizados e, com isso, registram-se informações importantes que, ao longo dos anos, é possível construir uma série histórica  que contribui para  o estabelecimento de estratégias de gestão e manejo, objetivando a  preservação das espécies.

O projeto, que teve início em 2020, formou aproximadamente 200 pessoas entre funcionários e voluntários para a atividade de monitoramento de primatas na natureza, com aulas teóricas e práticas. Com  isso, cinco Estações Ecológicas e oito Parques Estaduais passaram a ser monitorados, totalizando uma área de amostragem de  506.089,28 hectares. Novas UCs deverão integrar o programa em 2023. 

Em 2022, foram percorridos aproximadamente 900 km de trilhas para a busca direta dos primatas, com um total de 347 avistamento, sendo encontradas espécies raras como o muriqui, sagui-da-serra-escuro, mico-leão-preto, sauá e bugio-ruivo, sendo esta última endêmica da Mata Atlântica e considerada uma das 25 espécies mais ameaçadas do mundo (Primate in Peril, 2022-2023). Em São Paulo, ela já foi observada no Parque Estadual Serra do Mar e na Estação Ecológica de Caetetus. Os dados estão ajudando os pesquisadores a entender melhor a ocorrência e distribuição dos nossos primatas e, permitindo a gestão das UCs a tomarem medidas importantes para ações de gestão e manejo.

Em decorrência do esforço para a conservação dos primatas, a Fundação Florestal foi convidada a participar do XIX Congresso Brasileiro de Primatologia em Sinop (MT) de 27 a 32 de agosto de 2022, em mesa redonda sobre políticas públicas do Estado de São Paulo para a conservação dos primatas.

O Brasil é um dos países que apresenta a maior  riqueza  de borboletas do mundo, sendo que várias delas estão com algum nível de ameaça de extinção, como por exemplo a borboleta da restinga.

As borboletas na classificação biológica, pertencem à classe  dos insetos,  ordem Lepitoptera, onde Lepido = escamas e ptero = asas, ou seja borboletas são insetos voadores que tem escamas nas asas. .

Considerando que a abundância ou mesmo a ausência de determinadas espécies está bastante relacionada às condições ambientais existentes, as borboletas são excelentes indicadores de qualidade ambiental.

Apesar da grande riqueza de espécies neotropicais, a identificação dos principais grupos está relativamente bem resolvida, muito por conta dos estudos realizados em praticamente todas as regiões do Brasil. Esses fatores, junto a outros aspectos, como facilidade de manuseio, padronização na coleta de dados, baixo custo, colocam as borboletas como um bom alvo para o monitoramento da biodiversidade.

A Fundação Florestal, em novembro de 2021, realizou em Mogi das Cruzes, um encontro com gestores, funcionários, monitores ambientais e membros da prefeitura municipal local. Em pauta,  uma capacitação com o ecólogo Marcio Uehara Prado, especialista e consultor ambiental, para a realização do monitoramento desta espécie.

Na oportunidade, sete Unidades de Conservação optaram por trabalhar com o monitoramento das borboletas frugívoras: Estações Ecológicas Itapety e Juréia-Itatins, e os Parques Estaduais da Cantareira, Carlos Botelho, Ilha Anchieta, Intervales e Parque Estadual da Serra do Mar – PESM (Núcleo Padre Dória).  Em 2022 os parques Ilha Anchieta e Carlos Botelho realizaram junto com o programa de voluntariado, o primeiro monitoramento de borboletas frugívoras da Fundação Florestal.

A aquisição de 400 armadilhas pela Fundação Florestal para captura e identificação das borboletas,  permitiu que  atualmente 13 unidades de conservação possam participar do programa.