Observar as árvores floridas dos manacás-da-serra durante esta época do ano é um deleite para os olhos. Flores brancas, rosadas e lilases enchem de alegria e delicadeza o verde intenso da Mata Atlântica. Mas para universitárias que estão estagiando durante o mês de janeiro no Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba, em Ubatuba, essa observação não está sendo mero deleite, mas sim parte de uma pesquisa científica. Orientadas pelo doutorando em biologia da Unicamp, Vinícius Brito, que está realizando um trabalho a respeito do Sistema de Polinização dos Manacás da Serra (Tibouchina mutabilis), as estudantes estão vivenciando a pesquisa em diversas etapas.
O objetivo é oferecer aos estagiários do Programa Amigos do Verde, promovido pela Fundação Florestal, em suas unidades de conservação, a oportunidade de conhecer na prática, metodologias de pesquisa que poderão ser utilizadas futuramente em outras pesquisas que eles venham a desenvolver. As estagiárias tiveram acesso a equipamentos, métodos e etapas da pesquisa, além de irem a campo para observar e fazer coletas de flores e folhas. Aos poucos, detalhes como o formato, tamanho e cor das flores, a rápida visita das abelhas polinizadoras e seu movimento que permite a liberação do pólen vão sendo desvendados e analisados pelo grupo.
A estudante de Gabriela Mieko, que está cursando o segundo ano de Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Lavras, afirma que nunca tinha feito trabalho de pesquisa e que esta experiência está despertando novas ideias. “Estou achando muito bom acompanhar um pedacinho deste projeto, descobrir um pouco sobre a interação entre os insetos e as plantas. Estou descobrindo muito, não só sobre os manacás, mas sobre diversas espécies. Começo a ver a natureza com outros olhos, a questionar o porquê de várias coisas que antes passavam despercebidas.”
Vinícius Brito, que desenvolve pesquisas no PESM – Núcleo Picinguaba desde 2006, afirma que este trabalho é uma forma de interagir com as atividades do parque. “Acredito que esteja sendo tão bom para nós como para os estagiários. Não é uma relação unidirecional, é uma troca. O interessante para a formação deles é que as técnicas utilizadas aqui poderão ser aplicadas nas pesquisas futuras desses estudantes. Esta é uma forma de retribuir e agradecer o aprendizado que também adquiri dentro do Parque durante todos esses anos.”
A pesquisa de Vinícius Brito – intitulada “Biologia da polinização, reprodução e genética de duas populações de Tibouchina pulchra Cogn. (Melastomataceae) em gradiente altitudinal no sudeste do Brasil” – compara a evolução do sistema reprodutivo entre manacás nascidos no litoral e os que vivem no alto da serra, procurando entender se os insetos polinizadores mudam características reprodutivas da planta. Para isso, o pesquisador coleta dados nos núcleos Picinguaba, em Ubatuba e Santa Virgínia, situado entre Ubatuba e São Luiz do Paraitinga. Brito conta que, até o momento, pôde perceber que no litoral, as flores são mais visitadas do que no alto da serra e que essa diferença traz mudanças genéticas nas plantas.
“Em altitudes elevadas, as condições ambientais podem reduzir a quantidade de polinizadores, principalmente de abelhas. Desta forma, o fluxo de pólen e a estrutura genética das populações pode variar ao longo do gradiente, uma vez que a transferência de grãos de pólen aos estigmas co-específicos também varia ao longo do gradiente. No caso de áreas de elevada altitude, a transferência de pólen é limitada, reduzindo as possibilidades de polinização cruzada”, explica brito.
A pesquisa mostra que “os aspectos da biologia reprodutiva são diferentes entre as duas áreas: na área elevada, a florada é mais intensa, a produção de pólen é menor e há limitação na transferência de pólen, mas a fertilização de sementes provindas de polinização cruzada manual é maior. Na outra área, são produzidos mais frutos e há maior riqueza e abundância de polinizadores. Ocorre diferenciação genética entre as populações, mas com uma interface de contato entre elas, além de menor diversidade genética na população da área elevada. Estes resultados indicam que a ausência de polinizadores na região de altitude elevada está associada a diferentes estratégias na biologia floral e reprodutiva para balancear a limitação de pólen. Além disso, diferentes dinâmicas de fluxo gênico mediado pelo pólen nas duas populações e as características de distribuição e reprodução podem influenciar a estrutura e a diversidade genética de Tibouchina pulchra ao longo da Serra do Mar.”
Amigos do Verde
O Programa de Voluntariado “Amigos do Verde” do Parque Estadual da Serra do Mar proporciona oportunidades de estágio voluntário a estudantes universitários de todo o Brasil, nas mais diversas áreas. Os estagiários voluntários realizam atividades nos diversos programas que a Fundação Florestal, por meio de suas unidades de conservação, oferecem: Pesquisa, Uso Público, Interação Sócio-ambiental e Programa de Gestão. Ao final, os estudantes recebem certificado de conclusão do Programa Voluntariados “Amigos do Verde”.
O objetivo do programa “Amigos do Verde” é capacitar estudantes através de vivências, em relação ao Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas, além de fortalecer a relação entre os parques e o universo acadêmico e otimizar as ações do parque, sobretudo no período de alta temporada, diante da grande necessidade de recepção e orientação ao visitante.
O grupo de estágiários voluntários é formado por estudantes de cursos variados, que vão desde psicologia e turismo, até biologia, gestão ambiental e engenharia florestal, entre outros. Para fazer a capacitação e o estágio, os estudantes recebem dos parques estaduais facilidades como alojamento e alimentação. Além da experiência, o estágio pode valer pontos nas faculdades em que estão cursando.