Pesquisa buscou entender o impacto de diferentes técnicas de restauração ecológica no Cerrado

Após dois anos de desenvolvimento, o Projeto Pé de Cerrado foi concluído neste mês de dezembro. A pesquisa, que teve como objetivo geral avaliar o desempenho de diferentes técnicas de restauração ecológica do Cerrado, como plantio de mudas e queima prescrita, teve como estudo de caso duas Unidades de Conservação que possuem este bioma: o Parque Estadual do Vassununga e a Estação Ecológica de Santa Maria.

O projeto foi realizado em uma parceria da Fundação Florestal, Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Carlos (UFScar), por meio do Edital FAPESP-FF/SIMA – Processo 019/19293-4, e teve a coordenação de Vânia Regina Pivello, do departamento de Ecologia da USP. Para Vânia, a pesquisa possibilitou a interação entre pesquisadores, gestores e funcionários das Unidades de Conservação. “Houve um intercâmbio de experiências e conhecimentos muito importante ao longo desses anos, porque quem está no campo, quem está vivendo isso no dia a dia, tem uma visão muito mais verídica do problema e isso é fundamental para os pesquisadores, que conseguem estabelecer projetos mais realistas. Por isso, tenho certeza que houve um ganho para todas as as partes”, explica Pivello.

O Cerrado enfrenta graves problemas de perda de flora em razão de invasões por espécies exóticas e adensamento da vegetação lenhosa. Por isso, os pesquisadores buscaram entender como o embasamento científico pode ajudar no refinamento de políticas públicas para a conservação da biodiversidade neste bioma, principalmente em Unidades de Conservação.

No PE Vassununga, a pesquisa avaliou a mudança na fisionomia da vegetação do bioma após 23 anos de um primeiro levantamento na Gleba Pé-de-Gigante, nome dado devido à sua formação geológica que vista do alto remete a uma forma de pegada de um gigante e é o maior fragmento de Cerrado da UC. O local que antes possuía diversas fisionomias, como cerrado denso, campo úmido, foram adensando, e está ficando mais arbóreo. Já a EEc Santa Maria, após sua ampliação a partir da Estação Experimental de São Simão e interrupção das atividades de silvicultura, apresenta extensas áreas dominadas por gramíneas africanas invasoras, como capim-jaraguá, com ocorrência frequente de incêndios.

Após análises por satélites, comparações com os dados dos planos de manejo e o restauro em si, com a queima prescrita e plantio de mudas do bioma – aqui um detalhe importante foi que o desenvolvimento dessas mudas foi feito a partir da colheita de sementes locais/regionais, isto é, sementes de matrizes aclimatadas ao ambiente de restauro – os pesquisadores chegaram a resultados relevantes.

Houve um aumento da abundância e diversidade de plântulas no banco de sementes do solo com o avanço do tempo nas parcelas experimentais com as técnicas de restauração avaliadas; também ocorreu ampliação na cobertura do solo por vegetação nativa com o avanço do tempo nas parcelas experimentais com as técnicas de restauração avaliadas, havendo diferença significativa entre os tratamentos, onde o  de plantio de mudas com adubação obteve os maiores valores; e diminuição da condutividade hidráulica dos solos nas parcelas experimentais com as técnicas de restauração avaliadas, este último aguardando as análises desse ano que devem reverter o quadro.

Com isso, as principais contribuições preliminares foram o fornecimento de dados robustos sobre a capacidade de projetos de restauração de cerrado alcançarem os indicadores ecológicos da Resolução SMA 32/2014 de forma esclarecedora e replicável e a proposta de uma metodologia aplicável e com resultados replicáveis para restauração de cerrado sensu stricto no estado de SP. “Conseguimos mostrar, ainda, a possibilidade da área experimental funcionar como ‘pomar de sementes’ para coleta e beneficiamento de aréas de cerrado paulista ameaçadas de extinção”, concluiu Lucas Sanglade, do Departamento de Hidrobiologia da UFSCar e um dos pesquisadores do projeto.

O projeto investiu, ainda, na divulgação e educação sobre a conservação do Cerrado e sensibilização da comunidade do entorno, com palestras em escolas, acompanhamento de visitantes nas UCs, produção de material pedagógico e realização de oficinas técnicas, além de publicações para as redes sociais.

Confira mais fotos do dia de encerramento do projeto, realizado no PEV e EE Santa Maria: