Objetivo é capacitar os funcionários para identificar rapidamente a ocorrência de macacos doentes ou mortos devido à doença
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente, no âmbito do Grupo de Trabalho criado para tratar a questão da Febre Amarela Silvestre (Resolução SMA 158/2017), realizou nesta terça-feira, 13/03, o último de quatro encontros técnicos sobre febre amarela no Estado de São Paulo. O objetivo das reuniões, que tiveram início em fevereiro, é capacitar funcionários das Unidades de Conservação (UCs) da Fundação Florestal para o atendimento de demandas decorrentes da circulação do vírus nas regiões do Estado mais recentemente consideradas sob risco, além de integrar as ações e contatos dos órgãos do sistema ambiental paulista com os órgãos de saúde.
O evento aconteceu no Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual Serra do Mar e contou com 33 participantes, entre gestores e funcionários da Fundação Florestal e Instituto Florestal, além de técnicos da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN/SMA) e da área da saúde dos quatro municípios do Litoral Norte. Os outros encontros foram realizados no Vale do Ribeira/Litoral Sul, Baixada Santista e Vale do Paraíba/Serra da Mantiqueira, totalizando 150 pessoas capacitadas.
O treinamento teve como tema “As Estratégias para Vigilância de Epizootias de Primatas Não-Humanos (PNHs) em áreas protegidas no contexto da Febre Amarela”. As epizootias são doenças que ocorrem em uma população animal, semelhantes a uma epidemia em seres humanos, como no caso da febre amarela, que ataca os macacos, principalmente bugios. Estes animais são fundamentais para que os órgãos de saúde disparem ações preventivas, como a vacinação, e o controle dos mosquitos transmissores, uma vez que são “sentinelas”, ou seja, ao adoecerem, indicam para os humanos a presença do vírus em determinada região.
Na ocasião, os participantes tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre a dispersão do vírus e sobre vacinação junto a representantes da área da saúde, como a Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) e Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) regional. Também foram definidos procedimentos, como o fluxo local de notificação de ocorrências envolvendo primatas mortos ou doentes ao órgão de saúde.
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População deve se vacinar
Embora o Litoral Norte ainda não possua registros de casos confirmados de febre amarela nem em macacos e nem em humanos, moradores e visitantes estão sendo orientados a se imunizar contra a doença como forma de prevenção. Segundo o biólogo da SUCEN, Luis Filipe Mucci, uma das características do Litoral Norte é que a população vive muito próxima da floresta. “Quando os primatas nos dão os primeiros sinais, é porque o vírus já está bem distribuído. Sabemos que a região está sendo pressionada, pois já foram detectados casos próximos, como em Paraty. Se todos estiverem imunizados, poderemos passar esse período com maior tranquilidade em relação à doença, uma vez que a única prevenção é a vacina”.
A febre amarela silvestre, que vem circulando no Estado desde maio de 2016, tem como principais transmissores os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que se alimentam do sangue dos primatas. Humanos que não foram imunizados podem ser infectados se adentrarem áreas de matas e forem picados por um mosquito infectado. Por esta razão, visitantes de Unidades de Conservação estão sendo orientados a se imunizar com 10 dias de antecedência da visita. Apesar da orientação da Secretaria Estadual de Saúde, apenas cerca de 50% da população no Litoral Norte foi vacinada até o momento.
O Macaco Não É Vilão
O encontro também abordou o impacto negativo da febre amarela sobre as populações de primatas, especialmente os bugios, já que a maioria dos animais infectados adoece e morre em poucos dias. De acordo com a especialista ambiental do Departamento de Fauna (DeFau/CBRN/SMA), Thaís Guimarães Luiz, até o momento, não existe uma forma segura de imunizar os animais. “A vacina humana não é recomendada para aplicação em primatas como bugios, devido à alta sensibilidade destes animais, ou seja, esta vacina poderia, inclusive, ocasionar a morte de primatas desta espécie”, explica.
Segundo o especialista ambiental Dilmar Oliveira (DeFau/CBRN/SMA), além do impacto da doença, existe uma grande preocupação sobre a ocorrência de agressões aos primatas. “As pessoas associam a transmissão da doença aos animais. Preocupa muito a Secretaria do Meio Ambiente do Estado o declínio populacional de primatas nos remanescentes florestais, especialmente dos bugios (Alouatta clamitans). Estes animais são importantes semeadores das florestas e a ausência deles nas matas poderá também modificar a estrutura da vegetação em longo prazo.”
Agressões aos primatas são consideradas crime ambiental. Denuncie!
– Diretamente no Banco de Dados da SMA -SIGAM, no link: http://denuncia.sigam.sp.gov.br/
– Via aplicativo para dispositivos móveis “Denúncia Ambiente“ (download gratuito disponível para os principais sistemas operacionais).
Na foto de destaque, um macho de bugio com seu filhote – foto: Miguel Nema Neto