Trabalho de dois anos define a visitação pública em 32 cavernas localizadas em quatro parques estaduais.
Por: Evelyn Araripe
Um mês após a entrega do Plano de Manejo Espeleológico da Caverna do Diabo, agora é a vez de mais 31 cavernas na região do Vale do Ribeira serem contempladas com o documento que orienta o uso do patrimônio natural, visando a sua conservação e manejo sustentável. Ao todo são 20 cavernas no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – PETAR, 10 no Parque de Intervales, uma no Parque Estadual do Rio do Turvo, além da Caverna do Diabo, que passam a ter definições específicas sobre a visitação pública, garantindo a prática do turismo sustentável.

Os Planos de Manejo das cavernas foram finalizados após dois anos de estudos, levantamentos e pesquisas, em um trabalho inédito no mundo, que envolveu mais de 100 especialistas, entre espeleólogos, geógrafos, historiadores, turismólogos, biólogos, arqueólogos, economistas e engenheiros. Os documentos também trazem alívio à população do Vale do Ribeira que viram, há dois anos, a sua principal fonte de renda, o turismo, ser ameaçada quando as cavernas foram interditadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. A justificativa do órgão federal foi a falta dos Planos de Manejo Espeleológico.

Na época, 46 cavernas estavam abertas para visitação pública. Preocupada com a situação, a Fundação Florestal firmou, entre os meses de abril e junho de 2008, Termos de Ajustamento de Conduta – TACs com o Ministério Público Federal (MPF), se comprometendo a efetuar em dois anos os Planos de Manejo Espeleológico, necessários para a exploração turística das cavernas. Esses TACs garantiram a reabertura imediata das cavernas na região e permitiram a retomada do turismo. Ainda assim, até hoje, a medida traz reflexos no turismo local. A Caverna do Diabo, por exemplo, perdeu metade de seus visitantes que, aos poucos, voltam a freqüentar o parque e a visitar uma das cavidades naturais subterrâneas mais conhecidas do Brasil.

“O mais interessante nesse trabalho foi o espírito de participação, o trabalho integrado de equipes com formações tão variadas, que juntas elaboraram esses 32 Planos de Manejo. Não existe no mundo relato de um trabalho semelhante a esse que fizemos”, destaca José Amaral Wagner Neto, diretor-executivo da Fundação Florestal. Neto ainda complementa que durante os estudos de elaboração dos Planos de Manejo, as equipes descobriram 10 novos sítios arqueológicos e novas espécies de fauna.

Entre as novidades descobertas, também estão a possibilidade de aumentar o número de visitantes na caverna Santana, no PETAR, e de criar novas rotas dentro da caverna Ouro Grosso, na mesma Unidade de Conservação. Hoje os visitantes só chegam até a primeira queda d’água na caverna, que possui outras seis. O Plano de Manejo da Ouro Grosso sugere rotas que levam os turistas a conhecer outras partes da caverna. Há também a possibilidade de ser lançado um roteiro interligando o PETAR, Intervales e o Rio do Turvo em uma trilha de 250 quilômetros de extensão. A Fundação Florestal pretende inaugurar, ao menos, 150 km desse trajeto até o final de 2010.

Conselho
Junto com a finalização dos Planos de Manejo Espeleológico, a Secretaria do Meio Ambiente – SMA e a Fundação Florestal criaram o Conselho Estadual do Patrimônio Espeleológico em Unidades de Conservação. Esse Conselho terá a participação dos órgãos vinculados à SMA, dos gestores das Unidades de Conservação com cavernas, as prefeituras dos municípios com patrimônio espeleológico significativo, universidades, centros de pesquisas, grupos de espeleologia e ONGs. O Conselho vai contribuir no trabalho de formulação de políticas públicas para o manejo e os cuidados com o patrimônio espeleológico e o seu entorno.

O Vale do Ribeira
Localizado no extremo sul do Estado de São Paulo, o Vale do Ribeira abriga todas as cavernas turísticas do Estado. Ao todo são 404 cavidades, entre elas as duas maiores e mais visitadas do País: a Caverna do Diabo, em Eldorado, e a Gruta de Santana, em Iporanga.

Considerada uma das regiões com o menor Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do Estado, a população tem o turismo e a cultura da banana como principais fontes de renda. Por abrigar um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do Brasil, com rica biodiversidade e cenários naturais, a região atrai turistas do mundo inteiro interessados em conhecer a natureza preservada e a variedade de espécies de fauna que habitam o lugar.