Integrantes da Operação Corta Fogo, as gestoras e bombeiras civis da Fundação Florestal auxiliam não só a combater incêndios, mas também dão todo o apoio logístico em momentos críticos
Em comemoração o Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, a Fundação Florestal apresenta a história das gestoras das Unidades de Conservação que integram a Operação Corta Fogo, uma iniciativa do Governo de SP para prevenir e combater os incêndios florestais, especialmente em áreas de proteção ambiental. A Operação vigora o ano inteiro, mas é intensificada durante o período mais seco do ano, que vai de junho a outubro.
Nesta época do ano, é ativada a fase vermelha da Operação. As ações de combate ao fogo e de fiscalização repressiva são priorizadas e as estratégias de comunicação e campanhas preventivas ganham reforço. Nas Unidades de Conservação mais suscetíveis a incêndios, este esforço é redobrado.
Mas o trabalho não se concentra apenas nos meses mais críticos do ano. A fase verde é dividida em duas etapas. A primeira, entre os meses de janeiro e março, é dedicada às atividades de planejamento e início das medidas de prevenção e preparação. No final do ano (meses de novembro e dezembro) é realizada uma avaliação da temporada de incêndios e são iniciados os preparativos para o ano seguinte. Já na amarela, entre abril e maio, o foco é nas ações preventivas e de preparação para enfrentar os incêndios florestais, incluindo as atividades de treinamento, capacitação, elaboração e revisão de planos preventivos e de contingência.
Natália Poiani Henriques, gestora do Parque Estadual Aguapeí, explica que “todos os anos, a temática dos incêndios florestais permeia a rotina de mulheres que se dedicam à conservação de áreas protegidas na Fundação Florestal. No meu trabalho de gestão do Parque, as ações relacionadas à proteção e prevenção a incêndios começam muito cedo, já no início do ano, ainda no período das águas ou na temporada de chuvas, como também chamamos. Fazemos uma ampla avaliação das condições locais e o planejamento de ações preventivas, incluindo reuniões, saída à campo, vistorias em acessos e aceiros, ações de educação ambiental e articulação com uma vasta rede de parceiros que leva a uma posterior operacionalização das ações planejadas”.
Simone Freitas, gestora da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (Feena), relembra a primeira vez que teve experiência com um incêndio de grandes proporções, quando era gestora do PE Águas da Prata, em 2019. “Teve uma mobilização muito grande das pessoas para controlar a situação. O que mais me marcou é que meu filho fez um ano durante a operação. Saí de casa por volta das 6h, quando ele ainda estava dormindo e voltei quase meia noite, em que ele já tinha ido para cama. Esse foi o momento que mais assim me emocionou, porque é o primeiro aniversário do seu filho, que nunca mais vai se repetir. Porém, em nenhum momento – diante da situação do fogo queimando a área que você cuida, colocando em risco pessoas e animais – você pensa, simplesmente vai”, relembra. “Quando eu retorno e eu olho para o meu bebê dormindo, eu tenho a sensação de dever cumprido, de falar, ‘é pra isso que a gente trabalha, para que futuras gerações tenham um ecossistema mais saudável. E isso se repetiu no segundo e no terceiro aniversário dele, mas faço isso para proteger nosso maior patrimônio, não só para ele, mas para as futuras gerações”, completa.
Monica Oliveira, gestora da Estação Ecológica de Itapeti, está há três anos na Operação. “Minha principal atividade é divulgar o trabalho e objetivo da Corta Fogo na forma de exposição itinerante com propósito educativo em locais como shoppings, prefeituras e ONGs, tornando o público externo um grande multiplicador desta questão tão fundamental que é a prevenção e combate à incêndios”.
Pamela Guandalini, gestora da Área de Proteção Ambiental (APA) Ibitinga e da Estação Experimental de Araraquara, destaca a importância do olhar para a prevenção. Ao chegar na Fundação Florestal, criou um grupo de trabalho dentro do Conselho Gestor com os principais atores do território, usinas, fábricas, prefeituras, Corpo de Bombeiros, entre outros, para estreitar laços e ter uma rápida resposta em caso de incêndios, incluindo a construção de um Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais para unidades de conservação e demais áreas naturais protegidas do Estado de São Paulo (PPCIF). “Isso nos ajudou muito na ocorrência de 2020, que era um local de difícil acesso, em uma área rural. O combate foi feito com aeronaves com apoio de parceiros. Foi um combate difícil, mas nós conseguimos, graças à articulação prévia, ter uma rápida resposta”, relembra. “Além disso, ao longo do ano, fazemos palestras, eventos e treinamentos para divulgar a Operação. Mas, em ocorrências, estamos aptas também para atuar na linha de frente, assim como os homens. Nós mulheres trabalhamos em diversas frentes”, afirma.
Juliana Quintanilha, gestora do Parque Estadual Águas da Prata, entrou na Fundação Florestal no mesmo ano do decreto que regulamentava a Operação, 2010, e evoluiu em paralelo ao amadurecimento do programa. Como a mulher com mais horas de fogo da Instituição, Juliana relata que essa atuação a desperta uma memória afetiva. “Nasci e morei até meus 20 anos em uma fazenda do Estado, em Franco da Rocha, onde meus pais trabalhavam. A Fazenda era autossustentável, mas ali também ocorriam incêndios. Tenho a lembrança da administração tocando o sino e meu pai corria para ajudar e eu era bem curiosa e sempre quis ir junto. Me lembro dele chegar em casa sujo, cansado, mas com o semblante de felicidade por ter conseguido controlar o incêndio. Meu pai faleceu quando tinha 13 anos, mas o cheiro de capim queimado me lembra ele até hoje e hoje fazendo parte da história do Corta Fogo me sinto continuando um legado dele, ajudando as nossas matas”.
Alessandra Pinezi, gestora da Estação Ecológica de Ribeirão Preto e da APA Morro de Sao Bento, destaca também o orgulho de fazer parte da iniciativa. “Aprendi muito ao longo desses anos estudando, observando outros combatentes e adquirindo conhecimento empírico, e pude ir colocando em prática tudo o que fui aprendendo. Para mim continua sendo uma experiência ímpar. O desafio é sempre o de darmos uma resposta rápida e à altura aos incêndios florestais”, esclarece. “Todos se juntam em prol de um objetivo, que é extinguir o incêndio o mais rápido possível para que não haja tanta destruição. E os trabalhos continuam posteriormente com o apoio aos locais e as pessoas que foram afetados. Essa resiliência, união e o amparo pós incêndio são sempre marcantes para mim”.
Para Kátia Florindo, gestora do Parque Estadual da Cantareira e da APA Várzea do Tietê, que integra a Operação desde 2016, “fazer parte do programa é imensamente satisfatório para mim, poder colaborar de igual para igual com os colegas na proteção dos atributos das nossas valorosas Unidades de Conservação é um orgulho. Todo o conhecimento adquirido, a troca de informações com os colegas e principalmente o cooperativismo que existe no dia a dia nos impulsiona a melhorar diariamente”.
Além das gestoras, cerca de 10% das pessoas contratadas para atuarem como bombeiros civis durante a fase vermelha são mulheres, como é o caso da Silmara Lima, de 23 anos. Desde 2020 na Operação, ela lembra o momento mais marcante. “Ao longo desses anos, tenho vivido grandes experiências em combate, mas o que mais marcou foi o incêndio de 2021 no Parque Estadual do Juquery. Ali, tive a certeza que estava no lugar certo, fazendo a coisa certa, fiquei horas em frente ao fogo colocando em prática tudo o que havia aprendido, foram horas incansáveis carregando costais cheias, descendo e subindo morro, mesmo cansada dei o meu melhor para colaborar na extinção do fogo que tomava conta do parque inteiro”, explica. Sobre ser mulher apagando fogo, ela explica que “fico muito feliz quando vejo que tem gente que acredita em mim e nas minhas colegas de trabalho, nem sempre topamos com pessoas que veem mulher nessa profissão como algo normal”, finaliza.