Iniciativa visa a troca de conhecimentos e a integração das equipes; nesta primeira etapa, câmeras irão mapear a área por 60 dias
A Aldeia T.I Renascer Ywyty Guaçu, em Ubatuba, e a Fundação Florestal se reuniram na última quarta-feira (12) para uma importante parceria que possibilitará a troca de experiências entre comunidade indígena e estado de São Paulo em prol da preservação ambiental. Com o conhecimento tradicional da Aldeia e a tecnologia disponibilizada pela FF, será possível iniciar o monitoramento da biodiversidade da região por meio de câmeras, que trarão dados estratégicos sobre a fauna local.
O primeiro passo nessa parceria foi uma capacitação conduzida pela Fundação FlorestalPa. Participaram do treinamento os representantes da aldeia indígena e os gestores das Unidades de Conservação do Litoral Norte, incluindo Cláudia Oliveira, do PE Serra do Mar Núcleo Picinguaba, Miguel Nema Neto, do Núcleo Caraguatatuba, Leo Malagoli, do Núcleo São Sebastião, João Paulo Vilani, do Núcleo Santa Virgínia, Maria Inez Biondi, do PE Ilhabela, Priscila Saviolo, do PE Ilha Anchieta e Marcio José dos Santos, da APA Marinha do Litoral Norte. O curso foi conduzido por Andrea Pires, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) e abordou o tema Monitoramento da biodiversidade com integração, envolvimento e troca de experiências, conceitos e informações técnicas quanto à instalação das câmeras.
Segundo Cristiano Awa Kiririndju, liderança da Terra Indígena Renascer Ywyty Guaçu, a iniciativa irá fortalecer e divulgar um trabalho de preservação ambiental que já vem sendo feito pela comunidade. “Há 15 anos a área não nem tinha frutas nativas. Após a extinção da prática de caça e o início do restauro da fauna e flora, hoje já é possível encontrar várias plantas nativas e animais como tucano e paca. Conseguimos trazer volta diversas espécies e sabemos que essa parceria irá agregar ainda mais nesse trabalho que já vem sendo feito”. Com as imagens das câmeras, além de ter o real cenário da região, será possível levar esse conhecimento para a sala de aula. “Poderemos mostrar para os alunos quais são os animais que temos aqui, incluindo seus nomes em português e na língua indígena, gerando mais sentido de pertencimento e reforçando a importância da preservação”, completa.
Também foram entregues cinco câmeras para serem instaladas nos locais de conhecimento dos indígenas, onde há uma passagem mais frequente de fauna. O monitoramento ocorrerá no período de 60 dias, dividido em dois turnos de 30. “Esse movimento foi feito para que eles tenham resultados mais rápidos, que certamente, serão muito positivos. Integrar o conhecimento-técnico científico com o conhecimento tradicional é receita de sucesso para a conservação”, explica Andrea Pires. “Com a troca, eles conhecem in loco a área e nós auxiliamos tecnicamente na interpretação dos resultados para melhorar a gestão do território”, diz.
“Temos equipamentos e tecnologia capazes de trazer insights importantes sobre o ecossistema, mas a troca de experiências e conhecimento com a comunidade será um grande diferencial para que possamos entender de forma mais eficiente o espaço. Para nós, foi muito rico aprender sobre a biodiversidade com os indígenas”, afirma Rodrigo Levkovicz, diretor executivo da Fundação Florestal.
Para Cristiano, “este é um movimento importante, porque é o estado reconhecendo o indígena com um parceiro na luta pela preservação do Meio Ambiente. O trabalho que fazemos não é de agora, mas era um esforço realizado de forma autônoma e só nos faltava a tecnologia. A gente entra com o conhecimento tradicional e a FF com a parte técnica”, finaliza.