O réptil foi encontrado na comunidade do Guapiruvu, em Sete Barras, em outubro de 2020 e permaneceu sob cuidados e observação no Parque Estadual Intervales

A ação de soltura de animais selvagens na natureza, principalmente após um período de cativeiro para estudos e observação por profissionais, exige o planejamento de uma cuidadosa operação para que tudo aconteça sem sobressaltos ao animal. Esses cuidados aumentam quando se trata de um espécime raro, como foi o caso da serpente da família dos Corallus cropanii, também conhecida por jiboia-do-Ribeira ou boa-de-cropan, uma espécie endêmica do Vale do Ribeira e em perigo de extinção.

O animal foi encontrado em outubro de 2020 e o fato foi notícia no site da Fundação Florestal, com repercussão na mídia regional, já que os os registros de avistamento desse réptil são raros. Felizmente, a jiboia foi localizada por membros da comunidade, fundadores do grupo “Ação Comunitária Mãos que Protegem”, e parceiros da gestão do Parque Estadual de Intervales. O grupo efetua o resgate de animais silvestres feridos ou perdidos de seu bando e garante a soltura em áreas seguras. Essas iniciativas procuram erradicar definitivamente a antiga prática de matar animais selvagens, resquício da época dos primeiros ocupantes das terras brasileiras.

A jiboia-do-ribeira teve a sorte de ser resgatada por esse grupo de pessoas. Atualmente, os animais silvestres são respeitados em seu direito de viver livres nas matas por grande parte dos moradores. Nos últimos anos, tem havido ações voltadas à capacitação de pessoas sobre manejo seguro e transporte de animais silvestres, como serpentes.

Preparação para o retorno à vida selvagem

Durante o período em que esteve hospedada nas instalações do Parque Estadual Intervales, a jiboia-do-ribeira recebeu todos os cuidados e, até mesmo, um apelido de seus cuidadores, Esperança. No domingo, 9 de maio, ela  finalmente pôde voltar para casa. Para que isso ocorresse com segurança, alguns procedimentos foram necessários.

No dia 10 de março, Esperança passou por uma pequena intervenção para a implantação de um radiotransmissor e não apresentou nenhum sinal de alteração de comportamento. Em 10 de abril, sua alimentação consistiu de dois camundongos e ela permaneceu em digestão pelos dez dias seguintes. Em 26 de abril, Esperança fez uma nova refeição enquanto se preparava para o grande dia.

A equipe de avaliação de campo indicou uma área no interior do Parque Estadual Intervales como o local ideal para um retorno seguro e o dia 9 de maio foi definido em função das datas de alimentação e do seu período de digestão, em sintonia com outras providências operacionais.

Somente os membros da equipe com funções específicas foram autorizados a acompanhar o procedimento de soltura. Considerando-se que ainda há restrições a reuniões presenciais em razão da pandemia, todos portavam máscaras de proteção facial e respeitaram-se os limites de aproximação individual. A equipe responsável pelos cuidados com a jiboia era composta por representantes do Projeto de Conservação Jiboia do Ribeira, do Parque Estadual Intervales e por representantes da comunidade local.

Para além de cumprir sua missão institucional, a FF acredita que a divulgação de procedimentos como esse contribui para aumentar a consciência ecológica e o sentimento de que a proteção e a defesa dos recursos naturais e da vida selvagem partem da ação individual consciente e participativa.

A equipe fez o registro fotográfico e vídeos da jiboia Esperança, que já retornou ao seu habitat.