No último dia nove de fevereiro um importante imóvel da história econômica do Brasil Colônia foi reintegrado ao patrimônio da Fundação Florestal. Com a liminar obtida pela Procuradoria Geral do Estado, o conhecido “Casarão”, inserido no Parque Estadual Jaraguá, ocupado desde os anos 80, pela representação paulista do Albergue da Juventude, volta a ser responsabilidade do governo do Estado. O imóvel tem sua origem ligada ao chamado “ciclo do ouro” no Estado de São Paulo. A retomada do imóvel pode representar o estancamento do processo de deterioração. Transformá-lo em um centro para visitantes, ou, em uma espécie de museu de mineralogia, são algumas das possibilidades que se apresentam com a retomada do “Casarão do Afonso Sardinha”.
A reintegração foi conduzida de forma tranqüila, com os responsáveis pelo Albergue da Juventude fazendo a doação de móveis, eletrodomésticos e utensílios para a “Casa André Luiz”. A família que reside em dependências do casarão e que exercia funções de zeladora para a entidade ganhou da Justiça prazo de 30 dias para encontrar local para residir.
A Fundação Florestal promoveu uma ampla documentação fotográfica do imóvel, ainda com todos os equipamentos em seu interior e depois, quando os cômodos já estavam vazios, como forma de visualizar o estado em que se encontra o imóvel.
SENHOR DOS VALES
As referências histórias dão conta de que as minas do Jaraguá se tornaram afamadas pela substantiva produção de ouro de aluvião, a ponto de receber a alcunha de “Peru do Brasil”, conforme as noticias de diversos sertanistas paulistas. Afonso Sardinha é tido como descobridor de minas em São Paulo, entre 1590 e 1597. Os registros históricos informam que as evidências atuais da presença de Sardinha por São Paulo são duas casas: uma no Butantã, na Praça Monteiro Lobato e o “Casarão” do Parque Jaraguá, além de vestígios arqueológicos de poços de lavra de ouro em área contígua ao parque, ocupada por população indígena.
Os registros históricos revelam que no tempo das Bandeiras, o Jaraguá e suas elevações orientavam quem estivesse chegando do sertão. Por outro lado, quando governador Men de Sá, ao chegar ao planalto de Piratininga, teve sua atenção despertada para o “Morro do Jaraguá”, que denominou de “o Senhor dos Vales”.
Passados pouco mais de 500 anos em meio a muitas histórias e importantes registros, hoje, o Jaraguá se constitui em uma área de preservação, depois de pelo menos cinco décadas de trabalho. Em seu Plano de Manejo constam idéias e propostas para criar um “Museu Mineralógico”, por exemplo.
Um breve retrospecto da história do lugar registra que em 1940 o Estado de São Paulo adquiriu 202 alqueires da Fazenda Jaraguá. Em maio de 1961, o Jaraguá foi oficialmente reconhecido como um Parque Estadual. Em 1978 o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico formalizou o tombamento da área. Quase duas décadas depois, em 1994 o Jaraguá foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, na qualidade de Reserva da Biosfera, passando a integrar a Zona Núcleo de Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.
Para melhor entender o esforço pela recuperação do casarão como patrimônio público do Parque Jaraguá, é preciso explicar que nos anos 1980, a administração do imóvel foi repassada para a então Secretaria Esportes e Turismo, que por sua vez concedeu o uso do imóvel para a representação local do Albergue da Juventude para fins de hospedagem.
NOVA PÁGINA
De agora em diante, a Fundação Florestal deverá promover os entendimentos com o Conselho de Desenvolvimento do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico (Condephaat) estabelecer os procedimentos necessários para promover a restauração do imóvel e definir os usos para o imóvel.
O Parque Jaraguá ainda guarda uma certa mística, beleza como cartão postal e ponto referencial de lazer para o paulistano. Mas, apesar da riqueza dos relatos de lendas indígenas, histórias do tempo da exploração do ouro e das expedições dos bandeirantes, nos tempos mais atuais, costuma ser mais lembrado por apresentar antenas de televisão espetadas em seu pico.
O Jaraguá que já foi tema do romance homônimo de Alfredo Ellis Junior, padece com os efeitos do urbanismo da grande metrópole e as pressões antrópicas. “O senhor do vale que já foi porta de despedida e esperança dos bandeirantes, pede o lugar a que tem direito na história de São Paulo”, registra documento com resumo de sua história destacando “sua importância como esse ícone paisagístico, como guardião de elementos da natureza e importância no período da economia colonial brasileira”.
A expectativa é de que a retomada do importante edifício se inscreva no contexto de mudanças que estão sendo operadas no modelo de gestão das Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, a partir da edição do Decreto Estadual n° 57.401, de seis de outubro de 2011, que autoriza a Fundação Florestal a celebrar parcerias mediante licitação pública. O Parque Jaraguá está entre aquelas que revelam potencial para parcerias destinadas a fomentar os serviços para a população.