Foi realizado com bastante sucesso o III Curso Brasileiro de Primatologia de Campo, entre os dias 29 de janeiro e 6 de fevereiro, no Parque Estadual Carlos Botelho (PECB), situado na Serra de Paranapiacaba –região sudeste de São Paulo. O evento reuniu 16 participantes de nove Estados do País.

O Parque Estadual Carlos Botelho é uma das 92 Unidades de Conservação administradas pela Fundação Florestal e bastante conhecido por abrigar uma das maiores populações do muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), além de grupos de bugio-ruivo (Alouatta clamitans) e de macaco-prego (Cebus nigritus), fatores que foram importantes para a escolha do local para a realização desta terceira edição. Aliás, “o curso foi uma oportunidade única de apresentar estes fantásticos animais a primatólogos de todo o Brasil e de compartilhar as atividades, conquistas e dificuldades encontradas em um estudo de longo prazo com primatas em vida livre, tomando como exemplo este que é o estudo de maior duração com muriquis-do-sul”, comenta Maurício Talebi, professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e coordenador das pesquisas com muriquis no PECB.

Assim como nas duas edições anteriores, realizadas no sul da Bahia, o III CBPRIM apresentou um programa teórico-prático intensivo. No módulo teórico, foram abordados temas como a diversidade de primatas brasileiros, levantamentos populacionais, ecologia e comportamento, estratégias para a conservação e metodologia científica e análises estatísticas. “Esta base teórica representa um programa fundamental para a formação de estudantes que pretendem se dedicar à pesquisa e conservação dos primatas”, afirma Fabiano Melo, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador do Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental (CECO).

Já as práticas de campo promovidas pelo curso incluíram noções básicas de orientação, mesologia, herborização, acuidade visual e observações etológicas. Por fim, os participantes desenvolveram quatro miniprojetos sobre etnoprimatologia, levantamento e diagnóstico de populações, ecologia alimentar e comportamental e abundância populacional. Presente ao seminário de apresentação de resultados, o gestor do PECB, Engenheiro José Luiz Camargo Maia, destacou que “mesmo diante do curto tempo destinado para a coleta de dados, as informações geradas pelos miniprojetos serão muito úteis para auxiliar gestão da unidade de conservação no relacionamento com essas populações de primatas”.

Durante o evento também foram apresentados estudos de caso, como os conflitos entre macacos urbanos e redes elétricas em Porto Alegre (RS), manejo de muriquis isolados em fragmentos florestais e o programa para a conservação do mico-leão-de-cara-preta (Leontopithecus caissara). Segundo Leandro Jerusalinsky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) – do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – e um dos organizadores do curso, “estes relatos evidenciaram a aplicabilidade do conhecimento gerado por pesquisas científicas para o manejo e a formulação de políticas públicas, que são cruciais para a conservação dos primatas brasileiros”.

Além do CPB/ICMBio, III CBPRIM foi promovido pela UNIFESP-Diadema/SP, UFG-Jataí/GO, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC-Ilhéus/BA), Associação Pró-Muriqui, CECO e a Regional Brasil do Primate Specialist Group da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), e contou com o apoio da Fundação Florestal de São Paulo – especialmente por meio do PECB -, Sociedade Brasileira de Primatologia, Primate Action Fund, Margot Marsh Biodiversity Foundation, Conservation International, Prefeitura de São Miguel Arcanjo (SP), Instituto Ecofuturo, Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para a Biodiversidade (PROBIO II), Banco Mundial, Global Environment Fund (GEF) e Caixa Econômica Federal. Entre os instrutores, também estiveram envolvidos pesquisadores da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (IESB), Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e Universidade de Brasília (UnB). Conseguir congregar todas estas instituições demonstra o desafio que é realizar um evento como este, mas também indica que estamos no caminho certo para a formação das novas gerações de primatólogos brasileiros”, comemora Romari Martinez, professora da UESC. Visando à continuidade desta estratégia, inclusive em seu caráter itinerante, os organizadores já divulgaram que a quarta edição do CBPRIM será realizada no bioma Cerrado, em 2014.