Uma equipe de pesquisadores da Ong Dacnis está realizando o levantamento da avifauna presente no Sertão do Cambucá, uma área de recuperação na região norte de Ubatuba, que faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar – Nucleo Picinguaba, administrado pela Fundação Florestal. Em dois meses de trabalho, o resultado já foi considerado surpreendente. Cerca de 170 espécies de aves foram registradas, sendo que duas delas nunca haviam sido avistadas antes em Ubatuba. São elas: a águia-pescadora (Padion haliaetus) e o mergulhão-caçador (Podilymbus podiceps). O levantamento se estenderá por dois anos e a expectativa, segundo os pesquisadores, é chegar a 300 espécies nesse período.
O objetivo da pesquisa, entre outros, é oferecer subsídios para que seja traçado um plano de manejo para a região, considerando que as aves são espécies bioindicadoras, ou seja, são capazes de revelar a qualidade do ecossistema, os impactos sofridos e os caminhos para a recuperação do meio ambiente local. Para tanto, os pesquisadores fazem registros fotográficos e sonoros, por meio da observação direta do animal em liberdade, além de considerarem outros vestígios, como fezes, ninhos e pegadas.
O Sertão do Cambucá é um ambiente que sofreu degradações por conta de uma fazenda que existia no local, onde era feita extração de areia e criação de búfalos. Hoje, o local é administrado pelo Pesm-Picinguaba e, além de ser uma área de recuperação, serve de base para pesquisadores dos mais diversos assuntos.
Segundo o pesquisador Edélcio Muscat, em apenas dois meses de pesquisa, a quantidade de aves avistadas no Sertão do Cambucá demonstra que o ambiente tem uma excelente capacidade de regeneração. “O Sertão do Cambucá está se mostrando um paraíso de fauna e flora. Apesar de ter sofrido interferência e degradação humana por vários anos, o local possui um ambiente salutar e grande potencial faunístico.”A grande diversidade de espécies encontradas no Sertão do Cambucá, inclusive as duas aves que nunca haviam sido avistadas em Ubatuba explica-se, segundo os pesquisadores, pelo fato de ser um espaço geográfico relativamente pequeno, com características distintas. “O pasto desativado, o lago, a mata primária… Essa diversidade de ambientes cria condições especiais de alimentos para a ocorrência dessas espécies”, explica o coordenador de campo da pesquisa, Carlos Rizzo. “Temos esperanças de muitas surpresas pela frente. Encontrar espécies nunca avistadas na região é uma grande realização. Equivale a um gol em campeonato importante”, entusiasma-se.
Pesquisa com viés popular
A Ong Dacnis está sediada em Ubatuba e tem como enfoque de trabalho a defesa da Mata Atlântica e de seus habitantes. Por esta razão, o grupo desenvolve projetos que focam não somente o estudo de espécies da mata, mas também envolve as comunidades locais, considerando o conhecimento popular como algo de extrema importância para as pesquisas científicas.
Segundo a presidente da Ong Dacnis, Elsie Rotenberg, a ideia é desenvolver na comunidade a valorização da Mata Atlântica como amiga da população e não um estorvo, algo a ser destruído. “O uso do saber popular aliado ao saber científico possibilita um trabalho que pode inserir os jovens e adolescentes em um mercado de trabalho ecologicamente correto. Esta é uma de nossas metas: Traçar caminhos educativos para criar fontes de renda não extrativistas.”
Para Carlos Rizzo, que desenvolve um trabalho de capacitação para guias de observação de aves nas comunidades de Ubatuba, este tipo de pesquisa é de grande valia. “Os resultados da pesquisa científica e desse levantamento da avifauna são revertidos imediatamente para a comunidade. Estamos conseguindo transformar ex-caçadores em guias, dando a eles uma forma de continuar vivendo no Parque sem serem tratados como criminosos ambientais. O conhecimento extrapola as paredes da sala de aula e leva as pessoas ao contato pacífico com a natureza, com possibilidade de emprego e renda.”
A sede da Ong Dacnis está situada em uma propriedade de 169 mil m² no bairro do Rio Escuro. A casa-sede e a oficina estão em reforma e serão oficialmente inauguradas em breve, mas já podem ser visitadas. Para saber mais, entre em contato pelo e-mail: dacnis@dacnis.org.br ou por telefone: (12) 9158-0521.