O Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo e o Parque Estadual Intervales, no Vale do Ribeira, estão sendo cenários de uma pesquisa que pretende quantificar a ocorrência dos mamíferos queixada, também conhecido como porco-do-mato (Tayassu pecari) e anta (Tapirus terrestris), bem como entender melhor a genética dessas espécies. A pesquisa está sendo desenvolvida como teses de doutorado e mestrado em Zoologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Rio Claro, pelos pesquisadores Darren Norris e José Fernando Moreira, sob orientação do professor dr. Mauro Galetti.
Em 38 dias de pesquisa no PESM-Núcleo Caraguatatuba, não foi registrado nenhum sinal do porco do mato. Em relação à anta, foram coletadas 38 amostras de fezes dentro do Núcleo Caraguatatuba em um gradiente altitudinal entre 530 até 865 metros sobre o nivel do mar, um número considerado pequeno pelos pesquisadores.
As espécies estudadas costumam ser alvo de caçadores e sofrer pressão pela destruição de seu meio ambiente. Segundo os pesquisadores, grandes mamíferos como queixadas e antas são responsáveis pela dispersão de pelo menos 25% das espécies arbóreas, além de consumir e matar uma grande porção de sementes e mudas da Mata Atlântica, propiciando o equilíbrio ecológico e diversidade biológica da flora nativa. Atualmente, a Serra do Mar é uma área importante para a conservação das duas espécies na Mata Atlântica. Conhecer a variabilidade genética e abundância desses mamíferos é importante para conservá-los e garantir a biodiversidade da Mata Atlântica.
A queixada é uma espécie-chave para a manutenção das comunidades florestais e biodiversidade da Mata Atlântica, tanto por sua interação com as plantas como dispersor e predador, como pelo papel de presa para grandes predadores, como a onça pintada. A anta é um importante dispersor de sementes na região Neotropical. Com seus cerca de 250 kg, é o maior mamífero herbívoro nativo das florestas tropicais sul-americanas.
Resultados alarmantes Até o momento, os pesquisadores andaram cerca de 279.32 quilômetros dentro do Pesm-Núcleo Caraguatatuba. Segundo os pesquisadores, os primeiros resultados em relação à queixada não são encorajadores na região. “Durante 38 dias, conseguimos registrar a presença de 19 espécies de mamíferos no Núcleo Caraguatatuba, mas nenhum sinal da presença de queixadas. O resultado mais surpreendente é que é mais fácil detectar a presença de onças-pintadas e muriquis, já ameaçados de extinção, do que das queixadas. Vimos e ouvimos o muriqui e também encontramos rastros de onça-pintada em ambos os parques. Se houvesse populações saudáveis de queixadas na região, teríamos mais sinais de sua presença”, afirmam os pesquisadores.
Para desenvolver a pesquisa, os zoólogos traçaram áreas a serem pesquisadas, de acordo com a vegetação e características propícias à ocorrência das espécies. Estão sendo utilizadas técnicas não invasivas, como armadilhas fotográficas e armadilhas de pegadas para a amostragem do queixada. A relação espacial entre a ocorrência de queixada e influências humanas e naturais está sendo quantificada com técnicas geo-espaciais utilizando as seguintes variáveis como exposição às perturbações diretas (como a caça); distancia de ruas, borda do parque e centros humanos, entre outros.
Para anta, a principal técnica é procurar fezes da espécie em diversas localidades dentro do parque, para ter diferentes indivíduos amostrados. Para isso se percorrem as trilhas pré- existentes, rios, carreiros feitos por antas e estradas velhas. Até agora se tem 38 amostras coletadas no Núcelo Caraguatatuba. Estas amostras serão genotipadas para obter informações como: sexo dos indivíduos, fluxo gênico entre populações, e abundância e o tamanho populacional da espécie.
Por: Aline Rezende
Fotografia: Rufford Small Grants, Ford Foundation International Fellowships Program, Biota